A madrugada avança noite adentro e o vinho impregnado em minha corrente sanguínea me leva a uma pergunta perturbadora sobre o meu estado de espírito como escritor de bobagens sentimentais: por que diabos escrevo?
Não sou poeta do mundo, que através de seus versos busca a paz mundial ou o encantamento através das maravilhas da natureza. Não sou poeta do amor, que lamenta a ausência da pessoa amada com a mesma intensidade que declara a felicidade instantânea causada pelo encontro de lábios sedentos pelo sabor da paixão. Tampouco sou poeta da dor, chorando os traumas do passado, convivendo com as decepções do presente e tentando se preparar para as angústias futuras.
Então será mesmo que tenho motivos para escrever? Afinal, o que quero vai além de apenas usar palavras para transmitir pensamentos ocultos e obscuros de uma mente perturbada pelas cruzes carregadas em toda uma vida. Quero falar sobre o que me inspira e me faz querer viver.
E se os poetas escrevem sobre os cacos de vidro, sou como aquele que contrariou esta afirmação. Não por não falar sobre a dor e sobre as cicatrizes deixadas em minha pele por dramas passados. Isso é constante em meus relatos. Também não evito falar dos cortes causados por um arame farpado que arranhou o órgão vital para a sobrevivência humana. Essa dor continua viva em meu peito e faz parte de todo o meu viver.
A questão vai muito além do que escrevo e aí que talvez encontre a resposta do por que escrevo.
Escrevo porque razão e emoção estão em uma interminável guerra em meu interior. Às vezes o rufar das batidas do coração impossibilita o cérebro de usar a sua lógica para armar o próximo ataque, mas isto não é suficiente para impedir que este esteja sempre dois passos à frente, como um verdadeiro enxadrista pronto para o xeque-mate. O resultado de cada batalha são novos poemas e prosas, formados por algo que vai além do que simples inspiração. São sentimentos que automaticamente geram sorrisos verdadeiros, capazes de ofuscar as lágrimas, e lágrimas que somam-se a olhares profundos transmitindo as sensações escondidas nos recôncavos da alma.
Mas não é apenas isso!
Escrevo porque um dia, em um passado nem tão distante, encontrei a inspiração que faltava em minha vida para que me encantasse pela excitação causada ao acordar sabendo que não teria um dia como qualquer outro. Os dias passaram a ser diferentes quando compreendi o motivo do meu viver e que minha felicidade jamais seria instantânea enquanto pudesse sonhar acordado com o inevitável e futuro encontro com o que passou a ser a razão da minha existência.
Escrevo para dar voz a este sentimento que transborda do meu coração, declarando aos quatro ventos tudo o que preenche o meu corpo com um intenso amor pela vida. Escrevo sobre quem que me ensinou a amar e a viver. Escrevo para você porque sem você de nada adiantaria.
Sobre o Autor
Ricardo Biazotto nasceu em Espírito Santo do Pinhal, São Paulo, em 1993. Participou de várias coletâneas literárias, entre elas Amor nas entrelinhas, Ponto reverso, King Edgar Hotel e Marcas Eternas, da Andross Editora, e organizou a Antologia Comemorativa dos quinze anos da Casa do Escritor Pinhalense Edgard Cavalheiro. É colunista da Revista Rosa News. Mantém o blog overshockblog.com.br. Contato com o autor: ricardo.sep22@gmail.com |
Biazotto,
ResponderExcluirSuas palavras sempre são as mais apaixonantes, puras, cativantes e acima de tudo verdadeiras. Sobre sua técnica de escrita não posso deixar de dizer que já está mais que na hora de ter um livro solo e que você desenvolve toda sua história com maestria, com perfeição como sempre falo! Agradeço com todo meu amor por você escrever e dar a honra para meros leitores poderem apreciar suas obras.
Beijos! Aguardando pelo próximo texto. <3
Madu, o próximo texto vai sair no início do ano. ;) E agradeço imensamente por suas palavras e o incentivo em relação ao livro solo. Pode apostar que esse é um dos meus projetos para 2016. Desde já espero que aprecie a leitura.
ExcluirAguardo sua leitura e opinião sobre o próximo "Nas Entrelinhas". Aguarde!
Beijos,