#Coluna Revirando a Estante - por Jéssica Rufino - A Imagem da Mulher Livre no Conto

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A IMAGEM DA MULHER LIVRE NO CONTO 

“A MOÇA TECELÔ DE MARINA COLASANTI

por Jéssica Rufino



Marina Colasanti é uma contista incrível, capaz de nos comover e transportar para outros mundos, seus contos de fadas são únicos não apenas pela linguagem poética, cheia de figuras de linguagem, mas também pelas reflexões as quais nos levam.

No conto “A moça tecelã”, uma jovem mulher é dona da sua vida e de seu destino. Tece seu dia-a-dia de acordo com suas necessidades e vontades, não depende de ninguém e consegue ser feliz consigo mesma. No trecho “Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe com cuidado dês escamas.” Podemos observar que ela mesma supre todas as suas necessidades pessoais, tece o seu próprio alimento físico e espiritual e dorme tranquila como podemos observar no trecho; “E à noite depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.”

O fato de tecer é algo extremamente simbólico, pois para os gregos a vida era um grande tapete, o qual as moiras teciam entrelaçando os destinos da vida humana e findando os fios quando achavam necessário. As três irmãs do destino, conhecidas como moiras eram extremante poderosas, pois em suas mãos estava a vida e a morte, a alegria e a tristeza, o sucesso de uma existência ou seu fracasso.

A moça, que não tem nome, mas que representa todas as mulheres é a dona de seu próprio tear e de sua própria tapeçaria, simbolizando a mulher independente e forte, mas ao mesmo tempo delicada e sensível. Ligada às forças da natureza dentro e fora de si mesma. Essa mulher independente, em determinado momento de sua existência, sente a necessidade de um companheiro. “Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.” Esse trecho pode nos remeter ao fato da sociedade, ainda que disfarçadamente, cobrar da mulher uma companhia masculina, como se a mesma fosse impossibilitada de viver seu destino sozinha. A imagem da tia solteirona e infeliz, por não ter um marido e filhos ainda assombra o inconsciente de muitas mulheres.

Assim a moça tece o homem dos seus sonhos e logo que termina ele surge à sua porta, porém esse homem descobre o poder do tear de sua esposa e a felicidade da moça dura muito pouco, visto que o homem começa a explorá-la e aprisiona-la. Ela já não tem mais amor e nem paz de espírito. Um conto de fadas feminino, que nos mostra como algumas vezes idealizamos demasiadamente o outro e cegamo-nos para a sua verdadeira face, um conto universal, pois fala à alma, toca o espírito e nos revela o perigo de alguns relacionamentos.

No conto a moça, desesperada, toma a decisão de desfazer toda a sua vida com aquele homem, que no início era seu amor e que com o tempo tornou-se seu tirano. Ela simplesmente destece, não escolhe linhas e nem sonha com sua criação, ela apenas desfaz o que teceu. E deste modo, quando menos percebe o homem desaparece de sua casa e de sua vida.

Uma linda metáfora sobre nossas escolhas na vida, pois muitas vezes acreditamos que o destino colocou aquela pessoa no nosso caminho e que por isso devemos ficar ao lado dela para sempre, mesmo que ela não nos faça feliz, mesmo que ela nos tire a paz de espírito. Esse belo conto simboliza o poder da mulher, a força e a magia que existe dentro de todas nós, para criar—tecer ou desfazer—destecer nossas escolhas e nosso destino.

Conto do livro Doze reis e a moça no labirinto do vento.

Marina Colasanti

Ed. Global. 93 págs.

12º edição.


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