#Coluna - Nas Entrelinhas - Réquiem, por Ricardo Biazotto

Réquiem
Ricardo Biazotto


Meus dedos acariciam nossa única foto e uma lágrima solitária percorre o meu rosto, preenchendo os poros de minha pele com a decepção que carrego desde que colocamos um ponto final em nossa história. Em outrora gostaria de estar em sua frente, tocando o seu rosto e perguntando porque não insistimos em fazer acontecer, mas tenho consciência de que não foram apenas as nossas diferenças que nos impediram de enxergar o futuro.

Você se tornou uma sanguessuga que me devorou por dentro e levou embora o que existia de melhor em mim.

E se hoje lhe escrevo é para revelar que seu esforço em me fazer sofrer de nada adiantou, embora quase tenha me levado ao fundo do poço, confesso. Eu realmente entreguei tudo que esteve guardado por anos, porém vê-la renegando isso com tanto esforço, como se não tivesse a mínima importância, foi aos poucos me destruindo e quase me esqueci de toda a magia encontrada no amor.

Pareço um idiota, mas sou eternamente grato pelos momentos que passamos juntos. Devo dizer que conhecê-la foi um dos maiores aprendizados da minha existência: agora sei como não cometer o erro mais uma vez. No entanto chega de sofrimento, lágrimas, carência e solidão! Preciso me libertar das correntes que me mantêm preso a um passado que devo esquecer se quero reencontrar a minha paz. E a paz que procuro pode estar em qualquer beco, mas jamais escondida no fundo de sua alma.

Se antes você foi o sonho que curou as minhas feridas, hoje é apenas o pesadelo que me derrubaria do precipício caso persistisse em amá-la.

Então, pela última vez, enxugo as minhas lágrimas, rasgando a foto que tiramos naquela tarde de outubro quando lemos juntos um livro qualquer. Assim como tantos outros momentos, este deve ser esquecido para que as feridas abertas com as suas atitudes se cicatrizem e eu possa encontrar um novo norte. E não lamento de não vê-la mais por toda a eternidade. Essa é a consequência de seus atos.

Se toda história deve ter um ponto final, o da nossa será colocado com o fogo queimando a única carta que trocamos nestes meses. As cinzas que restarem serão as únicas memórias, mas o vento tratará de fazer a sua parte e as levará para bem longe de nosso ninho de amor.

Por isso não se iluda ao pensar que este será o fim da minha eterna busca pelo amor. Mesmo vendo o fogo queimando o que restou de nós, devo persistir em encontrar a felicidade em outrem, em especial por saber que um dia o seu rosto será esquecido nas profundezas da minha alma e você será apenas uma coadjuvante da minha história.

Hoje estou decidido a seguir em frente e nada nem ninguém será capaz de me impedir de persistir nesta jornada. Não será a falta de reciprocidade vinda de quem a tanto me dediquei que me fará abrir mão deste sentimento. Persistir é mostrar a mim mesmo e ao mundo que o amor continua sendo o combustível de toda a humanidade e o calor que aquece os nossos corpos nos dias frios e solitários.

Por isso persistirei no amor. Não será uma qualquer que me fará perder a nobreza de amar e ser amado.

Sobre o Autor
Ricardo Biazotto nasceu em Espírito Santo do Pinhal, São Paulo, em 1993. Participou de várias coletâneas literárias, entre elas Amor nas entrelinhas, Ponto reverso, King Edgar Hotel e Marcas Eternas, da Andross Editora, e organizou a Antologia Comemorativa dos quinze anos da Casa do Escritor Pinhalense Edgard Cavalheiro. É colunista da Revista Rosa News. Mantém o blog overshockblog.com.br.
Contato com o autor: ricardo.sep22@gmail.com

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