# Coluna De Olho na Literatura - O Erótico e sua Popularização - Parte 1, por Ricardo Biazotto



O Erótico e sua Popularização (Parte 1)
Por Ricardo Biazotto



Ao conversar com dezenas de alunos sobre a importância da leitura e da escrita, ressaltei em diversos momentos que a vida seria totalmente sem graça se não houvesse uma forma de se expressar. A minha intenção era mostrar que desde os tempos mais antigos, as formas de expressão fazem parte do cotidiano do homem por nada mais do que pura necessidade. Apesar das devidas diferenças, o sexo também está presente na história por pura necessidade — de prazer e reprodução.

Sabendo de sua importância para todos nós, é de se estranhar que seja tão difícil falar naturalmente sobre isso. O fato é que a literatura, como em tantos outros casos, acaba sendo fundamental para que tudo comece a mudar, ainda que lentamente.

Se pensarmos na história da literatura erótica, um gênero tão antigo quanto a própria arte, fica claro que a mudança aconteceu de forma significativa, principalmente porque o gênero influenciou a sociedade. Os mais antigos livros eróticos, por exemplo, tratam o sexo como uma moeda, em que a busca pelo prazer resulta em uma troca de favores. Ou então, a libertinagem que ia contra os costumes de uma época em que a religião movia a sociedade.

Os casos mais antigos datam da Idade Antiga e Média, porém a popularização do gênero ainda demoraria a acontecer.

Fanny Hill (1748), por exemplo, é considerado o primeiro romance erótico da modernidade. A obra de John Cleland explora mais do que apenas o entretenimento, apesar de as cenas serem explícitas e mostrar as aventuras sexuais de uma meretriz, o que logicamente não foi bem visto pela sociedade conservadora europeia. O livro chegou a ser banido e demorou séculos para que a sua importância fosse devidamente reconhecida literária e culturalmente.

Se a obra supracitada foi um marco no século XVIII, o mesmo aconteceu com A Vênus das Peles (1870), do austríaco Leopold von Sacher-Masoch. Antes da publicação da obra, recentemente encenada em uma peça de muito sucesso na Broadway e também no Brasil, com Vênus em Visom, o tema foi tratado por outros autores, mas sem o mesmo afinco. Para os mais desatentos, o termo masoquismo é uma referência a Sacher-Masoch, que em seu mais importante livro apresenta um homem que faz o papel de escravo sexual de uma mulher e é obrigado a conceder todos desejos femininos. Portanto, acontece uma verdadeira quebra de tabus.

Outro clássico da literatura erótica, que causou rebuliço após sua publicação, foi Lolita (1955), de Vladimir Nabokov. Se polêmicas existiram com os livros anteriores, imagine então uma obra que retrata a pedofilia. Apesar de dividir opiniões, inclusive sobre a sua classificação, “Lolita” não é considerada uma obra para todos, tampouco uma leitura agradável. Justamente por isso pode ser vista como importantíssima para o crescimento do gênero. Se as cenas eróticas são ou não constantes é o que menos importa. No fundo, “Lolita” mostra o papel da literatura como fonte de aprendizado e de importância também na formação da sociedade.

Por fim, Cinquenta Tons de Cinza (2011) é o mais recente título que foi capaz de revolucionar a literatura erótica. Diferente de todos os livros citados anteriormente, a importância da obra de E. L. James é muito mais por seu valor comercial do que por sua qualidade literária — por não conhecê-la, não pode ser o meu questionamento. Mas, independente de sua qualidade, a trilogia causou um verdadeiro boom no mercado literário e em bate-papos sobre literatura.

Hoje você pode estar cercado por intelectuais e, obrigatoriamente, “Cinquenta Tons de Cinza” será lembrado. A conversa pode ser sobre clássicos, mas ele será citado, mesmo se para uma comparação que definitivamente não poderia existir. Uma jovem pode falar sobre o livro sem ter medo da reação das pessoas e o mesmo pode acontecer com uma pessoa mais velha.

Talvez o surgimento de “Cinquenta Tons de Cinza” tenha colaborado para uma aceitação maior do gênero em questão. O fato é que nunca se publicou tantos livros eróticos, em especial escritos por brasileiros, mas isso é tema para ficar de olho em uma próxima oportunidade.



Sobre o Autor
Ricardo Biazotto nasceu em Espírito Santo do Pinhal, São Paulo, em 1993. Membro da Casa do Escritor Pinhalense “Edgard Cavalheiro”, participou do Vol. 5 da Antologia Literária Pinhalense e da produção do documentário “Edgard Cavalheiro – Vida e Obra”. Publicou nos livros Equinócios de Amor e Amores Impossíveis, da Alcantis Editora, Sonhos (& Pesadelos), da APED Editora, e Dias Contados – Vol. 2, Moedas para o Barqueiro Vol. 3 e Amores (Im)possíveis, todos da Andross Editora. É colunista da Revista Rosa News e moderador do blog literário overshockblog.com.br. Contato: ricardo.sep22@gmail.com.

2 comentários

  1. Realmente literatura erótica é um estilo a parte, mas necessário. Afinal, o erotismo faz parte da vida adulta e retratá-la na literatura é indispensável. A única obra do estilo que eu li foi 50 tons de cinza, mas não me agradou a história e a maneira como foi escrito, preciso ler os outros.

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    1. Beto, como disse, não li "Cinquenta Tons de Cinza", por isso não posso falar sobre ele, mas outros eróticos internacionais da atualidade deixam a desejar. Posso garantir que alguns nacionais, que serão indicados na segunda parte, são ótimas leituras. Aguarde!

      Abraços e muito obrigado por seu comentário.

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