# Coluna Revirando a Estante - A Morte no Conto, por Jéssica Rufino



A menina de Lá - Guimarães Rosa
Jéssica Rufino


A MORTE NO CONTO



“A MENINA DE LÁ” DE GUIMARÃES ROSA


“As pessoas não morrem, ficam encantadas”, com essa frase João Guimarães Rosa marcou seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras e também registrou com força sua visão de mundo.

Existem muitos estudos sobre Guimarães Rosa, teses e escritos sobre a grandeza de suas obras. Mas hoje quero fechar meu foco, não vou falar sobre a magia e a beleza da obra prima Grande Sertão Veredas, pois gastaria muitas páginas tentando entender ou explicar uma narrativa mágica, que deve ser lida e não apenas comentada.

Hoje quero falar da morte em um texto muito especial de Guimarães Rosa, o conto “A menina de lá”.

Para Guimarães ”as pessoas não morrem, ficam encantadas“, assim é a vida da pequena menina, personagem principal do conto. Ela já nasceu encantada, com o dom de ter seus mais fortes desejos realizados. Mas seus desejos eram simples e delicados, como comer um doce ou ver o arco-íris. Ninguém conseguia convencê-la a desejar outras coisas. Ela era apenas simplicidade e sossego. Chegou a curar a mãe doente, mas só quando esse desejo lhe veio no coração.

“A menina de lá” nos mostra aquilo que é essencial à vida, aquilo que puramente nasce do coração. Ela deixa claro que a alegria e a magia da vida estão nas coisas simples e que quanto mais paz de espírito temos mais felicidade encontramos pelos caminhos da vida.

A sabedoria de reconhecer o encanto que a morte proporciona à vida é singular. Quando guardamos em nossa alma a certeza de que um dia vamos partir desta existência, entendemos que só deixamos aquilo que fizemos, não materialmente, mas sim nossos gestos e atitudes.

A personagem da narrativa vive com a simplicidade e a sabedoria de alguém que muito viveu, pois sabe que logo chegará à hora da partida. E quando chega o fim de sua trajetória, ela simplesmente deseja ser enterrada em um caixão rosa com fitas verdes.

Escolhe cores alegres para se despedir do mundo e das pessoas que ama. E parte tranquilamente com a mais profunda sabedoria. Um conto bonito e triste, como só a mais alta literatura sabe ser.


                                                                                                         
                                                                                                   

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